top of page

Pandemia: Entre o isolamento e o recolhimento (Aproximações imaginativas)


Não podíamos esperar que uma pandemia se instaurasse em meio as nações e pessoas a partir de mutações genéticas o corona vírus se ocultou na comunidade gerando nas pessoas um misto de desespero e negação da situação coletiva.


Primeiramente a periculosidade da contaminação que ronda os espaços de potencial aglomeração. Em termos psicológicos o vírus se apropriou do plano do invisível, do oculto. Dimensões estas que sempre constelaram certo movimento paranoico nas pessoas, que diante do desconhecido precisam dar um significado as suas vidas partindo de certos referenciais.


Partindo dos pressupostos da psicologia analítica, proponho fazer uma pequena aproximação imaginativa acerca dos fenômenos psíquicos constelados pela pandemia que podemos observar:


  1. Ideação paranoica acerca da possibilidade de contágio, intrigas políticas, guerra química entre outros;

  2. Reação de medo que gera um sentimento apocalíptico, onde as pessoas se sentem desprotegidas e sem um referencial;

  3. Isolamento sentido como um encarceramento, amplificando cada vez mais os outros dois fatores anteriores;


A partir disso o Covid-19 provocou no sistema global um impacto de proporções nunca imaginável. Primeiro precisamos distinguir sobre os determinantes culturais deste impacto psíquico. Uma pandemia nos suscita algo a nível global, que afeta igualmente a todos, quando digo igualmente, não quero dizer que uns serão afetados na mesma proporção que outros, mas que todos serão afetados por um condicionante universal.


Em nossa atualidade é notória a capacidade que a mídia tem de influenciar multidões, tal qual a política e a economia se mostram como duas instituições de extrema força quando legitimam nosso lugar no mundo, a queda do dólar, a recessão, o mercado de trabalho, e crise. Estas são palavras com um forte potencial de causar impactos a nível concreto. Por outro lado as relações políticas como única forma de estabelecer acordos comerciais, gerar oportunidades e até provocar guerras.


Porém, em termos psicológicos cada uma dessas dimensões culturais se enraíza em um tipo de vivência primitiva de imagens pré-lógicas. Esses arquétipos estruturam nossa experiência, deste modo podemos fazer uma aproximação imaginativa com duas figuras míticas que podem nos ajudar a compreender melhor o tempo atual, figuras como Hermes e Héstia.


Héstia é filha de Cronos e Réia, irmã de Zeus que como um dos doze integrantes do conselho do Olimpo, ajudava em termos “políticos” a definir o destino da raça humana. Era chamada como a “primeira” e a “última”, por ser a primeira filha de Cronos. Héstia resolve sair do conselho dos 12 por não se dar com as intrigas e interesses dos deuses e vai morar entre os humanos, nas suas casas na forma de lareiras, assim o fogo é o elemento e símbolo de Héstia.


Héstia é o símbolo do recolhimento, de um processo de introversão onde transformamos nossa presença com nós mesmos, em aconchego, descanso, introspecção, reflexão, meditação, enfim seria uma forma específica de experimentação do espaço pessoal enquanto um refúgio da interioridade.

Héstia: Deusa grega das lareiras e dos lares

Mas o que fazer com a paranoia e as ideias apocalípticas?

Vemos uma série de vídeos e fórmulas tentando amenizar o momento em que vivemos no sentido de acalmar a ansiedade coletiva, porém muitas vezes tais tentativas ou amplificam a paranoia em relação ao contágio, por subestimar o potencial do vírus, outras vezes amplificam as fantasias de apocalipse. Deste modo toda e qualquer tentativa de reprimir as imagens vai acabar potencializando as mesmas. Uma saída possível é compreender a imagem que tal fenômeno constela em sua completude. Para quê o “apocalipse” se instala? Para quê o Covid -19 precisa ser uma “ameaça” constante?


Pensando assim, convidamos o leitor a pensar não as causas do problema, mas para onde a fantasia aponta. Desde sempre estamos imersos em imagens do fim que se estruturam nas fantasias de apocalipse. Para cada início de ciclo, há um final apocalíptico. As fantasias acerca do fim são coletivas e tem mobilizado medo, mas também apontam para uma forma de narrativa do mundo que já se esgotou. Narrativa que visa a literalizar e totalizar as relações que temos com os outros e com o mundo.


As relações totalizadas dessa maneira, mediadas pela política tende a formar sujeitos polarizados, restritos e em uma constante neurose de auto referência que se ancora na paranoia do perigo iminente, com um inimigo em comum. O sujeito da política é um sujeito sem reflexo, massificado, principalmente porque para fazer frente as questões contemporâneas precisa aderia a um papel que se tornou muito descolado das relações mesmas, imediatas que se dão no aqui-e-agora.


Deste modo a política atual literaliza os lugares identificando pessoas com posicionamentos ideológicos que não mais servem de descrição do mundo. Assim o Covid-19 foi acompanhado com uma paranoia de perseguição política e iminência de guerras. Será essa uma verdade? Percebem? Como tentamos o tempo todo nos apropriar do oculto? Tais fantasias conspiratórias revelam mais a incapacidade de significar a vida que as narrativas política e midiática tentam a todo o momento, do que dizer sobre o “como devemos nos posicionar”.


A Paranoia


O agregado de imagens a que se associa a paranoia atual é muito diversa, desde as relações econômicas entre Governos que ditam a disseminação do vírus para alavancar a economia, até uma guerra biológica e silenciosa. Ou mesmo o vírus como uma possibilidade mais do que iminente de contágio. Este momento convida as personalidades mais voltadas ao funcionamento paranoico fantasiarem. Hillman (1993, p. 16) em sua obra sobre a paranoia a define:


 


“Paranoia: desarranjo mental, loucura, délire, demência. Para + Noia: pensamento paralelo, desligado, defeituoso, derouté, entgleist, fora dos trilhos (...) Os delírios podem ser persecutórios, de ciúme, de referência – hipocondríacos, eróticos, queixosos (...) delírios de grandeza ou megalomaníacos.”


 

A paranoia demonstra um caráter irracional por ser incorrigível, por mais que os dados externos contrariem ou não dão a certeza exata sobre o fato o paranoico vê a situação como um fato que se impõe, havendo um conhecimento intrusivo e imediato do significado. “A paranoia é uma desordem do significado” (HILLMAN, 1993, p. 17).


O caráter incorrigível da desordem noética, se dá principalmente devido a inconsciência de uma cosmovisão e atitude frente ao mundo muito inflexível e sem lacunas. Não há espaço para o mistério. Hillman parte do princípio de que o “semelhante atrai semelhante” e se um ponto de oposição a nível inconsciente se manifesta, compensatoriamente devemos encontrar e lidar, com uma manifestação oposta a nível consciente, qual seja a ordenação neurótica de um mundo perfeito. Ou seja, a crença totalmente ilusória de que as ideias são produzidas por nossa própria vontade e não de modo “revelado” ou inspirado.


A paranoia neste sentido é a eclosão da necessidade de abertura para outras formas de significar os fenômenos e o mundo, uma forma mais mitopoética e imaginal do que narrativas estéreis que eclipsam a nossa capacidade de nos abrirmos para os eventos da vida. A imaginação apocalíptica mais do que um acontecimento em vias de se dar (pela via literal) é uma perspectiva diante da alma e do mundo. A “morte” enquanto imagem simbólica, ou seja, desliteralizada faz com que consigamos fazer renascer nosso mundo, infundir fogo vital no mesmo, mas não um fogo do progresso e das máquinas, mas um fogo de Héstia, íntimo, modesto, brando para que possamos nos recolher.


Se o Covid-19 nos ensina algo sobre a economia é que esta, para se dar, necessita mais da solidariedade e da empatia, atributos que dizem mais sobre as relações do que propriamente números, gráficos e estatística. Não que estes não expliquem a realidade, mas que de algum modo não conseguem dar conta das relações humanas.


Sobre o espaço interior...


Héstia como essa imagem que se associa a nossa morada interior revela que o fogo – representação da vida, da alma, da transformação e do desenvolvimento – não está fora, em sistemas impessoais, mas sim em nossa vivência e exploração dos espaços internos. Assim proponho uma releitura ou um deslocamento do olhar, juntamente com Héstia, do isolacionismo para o recolhimento.


O isolacionismo é informado pela exterioridade que deslegitima a nossa vivência dos espaços interiores. “Não estamos dentro de nós, mas longe dos outros”. Na lógica do recolhimento não somos informados por nada além de nossa lareira interna, da vida que brota de dentro. Mas para isso acontecer é preciso que um mundo inteiro chegue ao fim. É preciso esperar pacientemente em “fogo brando” para que no momento certo algo possa “nascer”!


REFERÊNCIAS


HILLMAN, James. Paranoia. Petrópolis. Vozes. 1993.


 o MANIFESTo do artefato:

 

Este é um ótimo espaço para escrever um texto longo sobre a sua empresa e seus serviços. Você pode usar esse espaço para entrar em detalhes sobre a sua empresa. Fale sobre a sua equipe e sobre os serviços prestados por você. Conte aos seus visitantes sobre como teve a idéia de iniciar o seu negócio e o que o torna diferente de seus competidores. Faça com que sua empresa se destaque e mostre quem você é. Dica: Adicione a sua própria imagem clicando duas vezes sobre a imagem e clicando em Trocar Imagem.

 próximos EVENToS: 

 

31/10/23:  Exposição de Arte Escandinava

 

6/11/23:  Arte em Vídeo Pelo Mundo

 

29/11/23:  Palestra: História da Arte

 

1/12/23:  Festival de Cinema Indie 2023

 Siga o ARTeFATo: 
  • Facebook B&W
  • Twitter B&W
  • Instagram B&W
 POSTS recentes: 
 procurar por TAGS: 
Nenhum tag.
bottom of page