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Suicídio: Sobre dar voz as dores insuportáveis


O suicídio é uma experiência humana muito antiga que data desde as tragédias gregas encenadas nas acrópoles, uma forma de dar vasão servindo como catarse das problemáticas universais do ser humano. Ver uma cena de suicídio em um teatro grego na antiguidade significava dar expressão às próprias dores insuportáveis.

Isso significa que o suicídio não deve ser visto como uma doença, haja vista que independe de quadros psicopatológicos para que alguém pense em retirar a própria vida. O que ocorre atualmente é que quando o suicídio se torna um tema social, corremos o risco de perder de vista uma leitura mais realista e condizente com tal experiência quando o que se debate é o tabu do suicídio tornando a ideia de morte um erro. O que o psicólogo americano James Hillman em seu livro Suicídio e Alma chama de furor curandi. Assim, transformando o suicídio em uma doença enaltecendo negativamente o tabu que já existe obtemos o efeito inverso, calamos a dor daquele que não pode ser julgado para poder se expressar.

Assim, antes de qualquer coisa quero começar este texto com a ideia, uma pouco transgressora, de que o suicídio é uma possibilidade existencial do ser humano. Na natureza a única espécie capaz de retirar a própria vida é a humana, colocando tal questão como uma problemática eminentemente filosófico-psicológica. Sob esta perspectiva a vida passa a significar um existir sob a possibilidade de querer morrer. Nós existimos e temos a ilusão de estarmos vivendo muitas vezes, mas também inconscientes de que há a possibilidade de perdermos a vontade de viver.

Assim, fica cada vez mais claro que os discursos sociais acerca do suicídio continuam os mesmos e realizando a mesma função. Transformar a ideia de morte em um tabu exercendo um paradoxo onde: Quanto mais se fala em suicídio, mais damos força e forma para a ideia de morte. Não se atenta no “como se fala sobre o tema”. Porém, tal experiência ainda que nos convoque a um medo, ela não precisa significar uma proibição.

1 – Estimular a saída do isolamento:

O que fica cada vez mais claro é que frases como: “O suicídio é dor que precisa ser dita”, ou “converse com alguém”, acabam por exercer o mesmo efeito de isolamento do sujeito quando proferidas no mesmo veículo de comunicação, a internet. Vivemos em uma sociedade onde mais vale uma selfie de uma vida aparentemente feliz, do que lidar quotidianamente com os revezes de um casamento desgastado. Isso não chama a atenção!

As redes sociais acabaram por se tornar até certo ponto, um folhetim de como se mostrar de forma mais original, sedutora, atraente, invejável e em conformidade com o que todos pensam uma vida feliz. Deste modo uma forma de prevenção contra o suicídio poderia estimular as pessoas a frequentarem mais praças, museus e periferias. Se importar com alguém deveria significar muito mais do que uma frase, mas sim a quebra de preconceitos e estereótipos por exemplo.

Estimular a pessoa a realizar atividades novas pode ser uma ótima recomendação. Partindo do princípio que a ideação suicida diz respeito a um aspecto maculado da vida, ajudar ao outro a se experimentar de uma forma diferente pode abrir outras perspectivas diante do seu sofrimento ajudando-o a suportá-lo.

2 – Considerar as Diferenças (Sensibilidade):

Outra forma de prevenção poderia ser a seguinte questão: “O que faz com que a vida desta pessoa doa tanto a ponto dela querer morrer?" Ou ainda: “Eu posso comparar minhas noções de felicidade e sofrimento com as de alguém que sente tanta dor a ponto de querer morrer?”.

Tais questionamentos abrem um espaço de diferenciação entre Eu-Outro fazendo com que a partir da consideração das diferenças consigamos respeitar este Outro em sua integridade para que somente assim o mesmo sinta vontade de se abrir. Porque quando se trata da vida, cada um vive a sua, mas quando se trata da morte nem todo mundo tem o direito de pensar sobre, tornando o tema um tabu, amplificando assim a importância de algo que talvez não devesse ser tão importante. Outra recomendação é: “Não julgue precocemente a ideia de morte!”.

Isso mesmo! Parto da perspectiva de que se a vida de cada um é tão valiosa e importante, não deveria ser um problema falar sobre o suicídio no sentido existencial. Talvez o tema do suicídio venha justamente confrontar a ideia monocromática de vida, onde viver se tornou algo fácil, rápido e consumível nas prateleiras de livros de auto ajuda. Frases de otimismo também SEMPRE exercem o efeito contrário do pretendido. Quando se fala coisas positivas para se livrar do tema por não saber lidar, preferível seria dizer: “Olha me desculpe eu não sei o que dizer para te fazer se sentir melhor, mas de qualquer forma quero estar com você neste momento!”. Isto soaria mais empático e compreensivo. Talvez nada precise ser dito, apenas a presença importa.

3 – Não ser um “tudólogo”. Encaminhe a um profissional adequado!

O tema do suicídio quando colocado de uma forma psicológica e existencial abre uma brecha para falar sobre a dor, sim este enunciado é verossímil, a vida da pessoa que pensa em se matar pode não estar nada bem olhando sob outras perspectivas. Outra forma de prevenção aqui pode ser considerar que: “minha perspectiva nada diz sobre este tema quando o que queremos é compreender a perspectiva do outro”.

Sei que pode ser muito tentador para aquele que acaba de cursar algum método de auto conhecimento de final de semana, ou módulos de bem estar e coisas do tipo. Porém é imprescindível que se tenha a noção dos limites do próprio conhecimento para que se consiga encaminhar a pessoa a um profissional adequado. Saber sobre a “melhor” forma de ajudar também pode ser uma forma de julgamento e calar os sentimentos da pessoa que se encontra neste estado. Fazendo isso é como estivéssemos dizendo: “Outros métodos são importantes, mas sua questão merece ser vista por várias perspectivas, ela é importante ainda que não saibamos suficientemente”.

A não ser que a pessoa compartilhe até certo ponto de tais métodos de tratamento devemos encaminhá-la a um profissional qualificado. O psicólogo psicoterapeuta é o ideal por se tratar de um profissional treinado para acessar a subjetividade das pessoas que se encontram em um estado de sofrimento, ou dores emocionais que não podem até o presente serem ditas. É uma profissão reconhecida e com um conselho deliberativo e fiscalizador.

Das dores insuportáveis

O suicídio por ser uma possibilidade existencial diz de até que ponto uma pessoa consegue continuar com-vivendo com suas feridas e máculas existenciais. Cada um possui uma sensibilidade e uma forma de compreender os seus acontecimentos, o que é dor para um, para outro não passa de desconforto. O que um vive como desconforto pode ser na verdade a pior das dores e ele precisa amenizá-la para suportar.

Muitas vezes as dores desembocam na conhecida depressão e outras neuroses. Muitas vezes uma doença mental foi a melhor maneira que o psiquismo de alguém conseguiu canalizar suas dores inconscientes, porém ainda são dores e ainda são inconscientes. Talvez algumas pessoas consigam conviver com uma psicopatologia, outras precisam aprender com seu sintoma, dar-lhes um nome. Como coloca Jung : “Não se deveria procurar saber como liquidar uma neurose, mas informar-se sobre o que ela significa, o que ela ensina, qual sua finalidade e sentido (...) Não é ela que é curada, mas é ela que nos cura. A pessoa está doente e a doença é uma tentativa da natureza de curá-la” (OC. V.10/3 p. 180).

Para saber sobre até que ponto alguém consegue conviver com suas máculas é preciso que primeiramente ela fale de suas dores. Não podemos subestimar dizendo que a pessoa não sabe pelo que sofre, mas talvez fazermos de nós um receptáculo quando questionamos nossas próprias noções de sofrimento e formas de lidar. Estarmos juntos e presentes quando o outro sofre tem um poder incomensurável.

 

“A natureza humana (...) tem seus limites (...) pode suportar até certo ponto a alegria, a mágoa, a dor, mas passando deste ponto ela sucumbe. A questão não é, pois, saber se um homem é fraco ou forte, mas se pode suportar o peso dos seus sofrimentos, quer morais, quer físicos”

Goethe – Os Sofrimentos do Jovem Wherter

 

Quis terminar com esta frase para dizer que ainda que todas as alternativas sejam esgotadas, e aqui devemos esgotar todas as possibilidades, ainda assim não teremos a certeza sobre a garantia do desejo de vida deste outro que clama por ajuda. Será que ele clama? Será que ainda quer viver? Talvez se conseguirmos ser um portal, uma brecha de frescor e vida em um amontoado de dor e morte, possamos ajudar a vida resistir neste sujeito.

Talvez o tema do suicídio evoque em nós essa vontade de manter e preservar as estruturas vitais que nos compõem enquanto humanos. Ajude-nos também a olhar a vida humana como um fenômeno ausente de garantias e resultados eficientes. Viver, além de ultrapassar qualquer entendimento como já se referiu Clarice Lispector, também ultrapassa quaisquer representações acerca da vida mesma. Priorizar a vida deve significar olharmos para aquilo que está ruim, para aquilo que tem que ser remexido, para aquilo que tem de vir à tona. Inclusive os sofrimentos insuportáveis, pois estes ainda não conseguiram falar!

REFERÊNCIAS

JUNG, Carl Gustav. Civilização em Transição. Petrópolis. Vozes. 2011.


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