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Psicoterapia (Quando a Alma precisa falar)


A Psicoterapia é qualquer método de tratamento psicológico que visa estimular o desenvolvimento da personalidade e/ou remover sintomas psicopatológicos através da relação deliberada entre terapeuta-paciente. A Psicoterapia surgiu no século XIX quando psicólogos tiveram a audácia de sentar-se durante um espaço de tempo e dar voz ao ser humano do qual a medicina falava.


Sigmund Freud e o suíço Carl Gustav Jung se propuseram a tal empreendimento desenvolvido a partir da ideia da cura pela fala de Breuer, descobrindo que a fala poderia aliviar não só uma alma que sofre (Ab-reação), mas também ajudar a desenvolver plenamente os potenciais mais caros do ser humano. Jung descobriu que psicologicamente a “confissão” é o meio pelo qual conseguimos entrar em contato com nosso lado humano e subjetivo propiciando assim uma relação autêntica entre terapeuta-paciente.


De fato, a confissão (ab-reação) se mostrou sempre como uma necessidade humana. Necessidade esta de ter um confessor e um guia, alguém que simplesmente vá ouvir o sofrimento sem nada dizer ou julgar. A confissão psicológica não é de cunho religioso e não tem a intenção de colocar o indivíduo em consonância com a verdade religiosa na qual afirma acreditar. Embora a confissão seja uma das etapas da psicoterapia ela é de cunho diferente e tem o objetivo de colocar o indivíduo frente às questões de sua personalidade possibilitando que haja uma maior congruência entre aquilo que se pensa e sente ser, com aquilo que se faz revelando/criando o que realmente se é.


A psicoterapia é um atendimento que segue uma disposição face-a-face permitindo ao cliente estabelecer um vínculo com o terapeuta fazendo com que a terapia se transforme em uma conversa, um processo dialético, onde a hierarquia terapeuta-paciente é subvertida possibilitando que ocorra um contato legítimo entre o eu e o outro. Hoje sabemos que se um indivíduo sentir-se acolhido dentro de certas condições facilitadoras de uma relação autêntica, entrando em contato com a totalidade dos sentimentos que lhes chegam, em um continente de aceitação incondicional, acabará por ter certas percepções de si que antes não possuía e assim gradativamente começará a clarear mais e mais o conceito que possui sobre si mesmo ressignificando este e ampliando sua consciência.


O objetivo da psicoterapia é o de trazer a consciência os conteúdos inconscientes dos conflitos experimentados propiciando assim a expressão e reflexão sobre os mesmos, possibilitando a destruição de mecanismos distorcidos e contraproducentes de atuação no mundo substituindo-os por formas mais maduras de ação. A descoberta de tais imagens se dá por meio da análise dos sonhos, associação de ideias, dramatizações corporais, imaginação ativa dentre outros.


A psicoterapia visa também a reestabelecer o contato do indivíduo com uma relação autêntica, isso se daria a partir da ampliação das áreas de “awarenes” (dar-se-conta), gerando assim a absorção da pessoa de maneira imediata e plena em sua experiência se com-fundindo com a mesma (Friederich Pearls, 1997). Deste modo expressando os componentes inconscientes do conflito e entrando em contato com a “experiência imediata” a pessoa consegue experimentar seu Self (Si-mesmo) (Jung, 1978). Experiência imediata significa um processo de descoberta não somente daquilo que se é, mas muito mais daquilo que não se dá conta de ser e daquilo que não sabemos que somos e fazemos, nossa sombra!


Nada sabemos o que iremos encontrar em nossa dimensão inconsciente, por isso a psicoterapia se configura como a possibilidade absoluta de autoconhecimento. Trocando em miúdos a psicoterapia visa a propiciar um deslocamento do olhar, clarificando áreas da existência até então desconhecidas devido à limitação natural da consciência individual em enxergar a vida sob outros matizes.


O psicoterapeuta se coloca na experiência intersubjetiva com o paciente, toda sua existência está implicada de modo que alguém que não consiga se expressar, teria enormes dificuldades em um caso clínico que envolvesse uma inibição social por exemplo. Assim, ajudar o outro a tocar nas feridas de sua alma, implica em que toquemos nossas próprias feridas, ou até questionemos se o melhor seria tocar nas próprias feridas. Por isso a Psicologia enquanto profissão não é idêntica a auto-ajuda em que dez leis podem ajudar a pessoa a ser “feliz”. Para que possamos dar uma imagem que seja do funcionamento psicológico do outro, temos nós psicólogos de ter minimamente conhecimento prévio de nossa personalidade, nosso funcionamento chamado dinâmica psíquica.


O isolamento característico de nossa atualidade em um jeito de ser pseudo-autêntico onde o autoconceito é sempre posto a prova por uma imagem a ser promovida, transformaram as relações em contatos difusos e “indiretos”, revelando o distanciamento que o indivíduo atual tem de suas reações, sentimentos e pensamentos que podem muitas vezes desestruturar suas funções mentais superiores a ponto destas precisarem de auxílio medicamentoso. Isso pode se dar em uma conversa, em uma percepção, memória ou até através dos sonhos gerando as condições propícias para que a pessoa se desorganize mentalmente.


Isso se dá quando a consciência se mostra muito fechada à pressão interna e externa que pode se manifestar através de uma compulsão, depressão, ansiedade, pânico ou perda de alguma função mental característica nas neuroses. Um “abalo sísmico” rompe suas defesas tornando o indivíduo submisso a um movimento maior do que ele. Em termos psicológicos as funções mentais e a consciência sofrem um colapso, mas que possui um sentido de ser, pois a psique possui a característica intrínseca de se reorganizar.


Jung (1976) citando Heráclito chamou esta função de enantiodromia: “Este fenômeno característico ocorre, praticamente, sempre que uma tendência extremada e unilateral domina a vida consciente…”. Assim, toda patologia visa em seu sentido simbólico gerar uma compensação, pois aquela necessidade não reconhecida que não afeta (pathos) mais a consciência pelas vias do conhecido, ganha destaque afetivo intenso pelas vias do desconhecido. Deste modo a psicoterapia possibilita que tais necessidades possam ser expressas de uma forma mais natural, sem que haja maiores danos à vida social e individual da pessoa que tenta lidar com seu sofrimento.


Por esta perspectiva toda e qualquer psicopatologia ou funcionamento psíquico exagerado é considerado não como algo fora do indivíduo, mas significa a expressão de sua vida inconsciente eclodindo como uma afecção negativa (não reconhecida). Tal característica se mostra nos vários espaços sociais, inclusive diria que mais intensamente, nos espaços onde a normalidade ou a formalidade enquanto status é mais valorizado.

Todos notam o comportamento extremado do outro ou em si mesmo e isso se dá através das nossas fortes emoções negativas, assim Emílio Romero (2003, p. 87) elucida que nós “… podemos afirmar que um afeto é sintomático, quando é conflitante ou acentuadamente perturbador, num sentido negativo, do fluxo vivencial (nos ciúmes, ódio, na culpa e outros)…”. Quatro características são identificadas para que possamos reconhecer um caráter sintomático como:


● A frequência em que o indivíduo se mostra fraco a tal afeto;


● A incongruência entre o que a pessoa relata e o que podemos ver na realidade “externa”;


● A dissimetria entre idade e fatores do desenvolvimento e a intensidade do sintoma;


● E a natureza oculta dos afetos não expressos transfigurados no corpo (somatização).


Remeto ao aspecto psicopatológico, pois é o colorido do estranho e anormal que possui muitas vezes a experiência da pessoa que sofre. É justamente por isso que a psiquiatria e até a psicologia nos países sub-culturalizados são vistos como ameaça ou um campo desnecessário, pois em um campo social muito rígido, todo mundo é “realista” e “bem ajustado”!


Toda demanda psicoterapêutica surge devido ao sofrimento que se experimenta, deste modo chegamos à ideia de que o sintoma ou o sinal é na verdade aquilo que vai aproximar o indivíduo da sua dimensão mais originária, daquilo o qual ele não pode fugir, sua natureza psicológica. A Psicopatologia representa atualmente segundo Hillman (1975, p. 57): “… a autonomia da psique de criar doença, morbidez, desordem, anormalidade e sofrimento em qualquer aspecto do seu comportamento e de experienciar e imaginar a vida desta perspectiva deformada e aflita”.


O Sofrimento é uma constante na existência, matéria prima para que possamos fazer algo de nós mesmos. As pessoas precisam da psicoterapia para ajudá-las a dar um significado para as suas dores, para ajudá-las a se ouvirem de forma mais compreensiva e assim olhar para si mesmas sob outra perspectiva mais ampla. Talvez as pessoas precisem do psicólogo como o único espaço social instituído onde elas possam ser ouvidas sem sofrer represálias por simplesmente estarem sendo humanas demasiado humanas. A Psicoterapia só fará sentido enquanto o único antídoto possível para o sofrimento for deixar a alma falar!

 

“O principal objetivo da terapia não é transportar o paciente para um impossível estado de felicidade, mas sim ajudá-lo a adquirir paciência diante do sofrimento”.


- Carl Gustav Jung

 

REFERÊNCIAS


HILLMAN, James. Re-vendo a Psicologia. Petrópolis. Vozes. 2010.


JUNG, Carl Gustav. Psicologia e Religião. Petrópolis. Vozes. 1978.


JUNG, Carl Gustav. Tipos Psicológicos. Rio de Janeiro. Zahar. 1976.


HEFFERLINE, Half; GOODMAN, Paul; PEARLS, Friederich. Gestalt-Terapia. São Paulo. Summus. 1998.

ROMERO. Emílio. As Formas da Sensibilidade. São José dos Campos. Della Bídia. Ed 2ª. 2002.

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