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O quê quer a baleia azul?


Atualmente nas redes sociais e mídias o tema do suicídio ganha extrema importância devido ao sucesso da série “13 Reasons Why”, que a partir de seu enredo colocou o tema em voga denunciando a alienação social em torno tanto do tema suicídio, quanto da questão da sensibilidade humana dentro das relações interpessoais.

Em nossa sociedade é muito chocante a constatação de que enquanto os animais são reconhecidos em sua integridade e cuidados por muitos como se fossem humanos, muitos humanos escolhem retirar a própria vida por não conseguirem a mínima empatia que esperariam encontrar no outro.

A série denunciou um fenômeno entre os adolescentes, chamado de “Desafio da Baleia Azul”, que possui cinquenta passos[1] para que a pessoa consiga ter coragem para retirar a própria vida. Muito estardalhaço tem sido gerado, muitos acreditam que a série é um estímulo ao suicídio, outros acreditam que não necessariamente e outros ainda subestimam o tema.

A grande questão é que a falta de vontade de viver, ou melhor, a vontade de morrer unida a coragem para escolher se matar, chocam as pessoas. A morte se tornou algo silencioso que vai drenando a vida da pessoa sem que ela veja, quando menos se espera não se quer mais acordar, literalmente uma perda da vontade de viver.

Talvez este seja o significado da baleia azul, a morte como algo grande, lento e que mora nas profundezas. Jung (1986) em sua obra Símbolos da Transformação irá estabelecer um paralelo mitológico entre a baleia e o renascimento do herói. Várias metáforas são utilizadas para a baleia simbolizando assim o útero feminino.

Desta forma a urna, a pipa, a baleia e a arca são símbolos maternos que compõem o arquétipo do herói. Em vários mitos podemos atestar este paralelo como quando Perseu e sua mãe, encerrados em uma arca são lançados pelo Rei ao mar. Ou no mito do dilúvio quando Moisés sobrevive e salva um animal de cada espécie em sua arca. Outro mito do herói é o de Jonas devorado pela baleia[2], o qual segue uma brilhante análise no link.

Outro mito é o da viagem de Gilgamesh em busca da imortalidade atravessando o reino das sombras, um análogo da baleia é seu sono de sete dias onde após isso os cabelos do herói são alvejados pelas águas da morte, renovando-o[3].

Assim também relatam os mitos de incesto onde o herói retorna ao útero materno para o seu segundo nascimento. Todos esses símbolos remetem a um processo de morte-renascimento. No mito de Jonas e a baleia ele é devorado, da mesma forma na alquimia medieval o símbolo da transformação é um leão verde que devora o sol, símbolo do herói.

O leão verde simboliza aqui o enxofre sulfúrico que ira dissolver o corpo da matéria, o verde está também presente na obra Macunaíma de Mário de Andrade, quando o herói se lança no lago de águas verdes encontrando a morte na personificação de uma Iara – a mulher que nunca vira de costas[4]. Este local é a origem da pedra Muiraquitã, um equivalente da pedra filosofal.

“O sentido dos mitos aqui está claro: é o anseio de renascer através da volta ao ventre materno, de tornar-se imortal como o sol” (JUNG, 1986 p. 200).

 

Para quê a baleia é azul?

Para James Hillman (2011, p. 180) o azul em seu sentido simbólico evoca a experiência de dois deuses, Hades e Dionísio que representam uma dissolução através do aprofundamento. Assim a cor azul na alquimia representa a transição entre a nigredo (putrefação) e a albedo (purificação).

Ele continua amplificando: “Este é o reino do ‘cão azul’ alquímico (...), envergonhado e safado ao mesmo tempo” (p. 151). Ele guia as almas até o mundo inferior, o romantismo e o sentimentalismo como um aprofundamento nos sentimentos consequentemente possuem uma tonalidade melancólica, que advém de um processo depressivo e incubatório que visa à reflexão solitária.

Assim, o tom azul é o guia de almas para uma reflexão profunda que envolve a consideração da alma através da “mortificação” do corpo. Para dar crédito à verdade subjetiva como um princípio absoluto, antes é preciso que se perca qualquer referência objetiva, referências da superfície. O que ocorre é que, quando tal experiência não é reconhecida o que sobra é uma auto mutilação e um desejo de morte através do suicídio. Porém nada é garantido quando se escolhe olhar para as profundezas.

Hillman (2011, p 32), quando fala sobre o suicídio coloca:

“Nenhuma outra questão força-nos, de maneira tão aguda, a encarar a realidade da psique como uma realidade igual à do corpo”.

 

O Renascimento do Herói

A baleia azul se for considerada como um símbolo, passa a significar o aprofundamento nos sentimentos, conduzidos por uma auto incubação, um aprofundamento na interioridade subjetiva e experimentação de um vazio (estômago da baleia) e um auto esvaziamento.

Esta experiência de falta de sentido em ser “apenas um corpo sem alma" deve conduzir às questões psíquicas que são existenciais e só podem ter uma consideração subjetiva, singular. Assim, antes da baleia ser vencida ela é um veículo através de “nosso mar profundo”, uma espera em um sofrimento individual. Depois, ela se torna um ovo o qual o novo homem – mais singular – irá surgir.

A “viagem marítima noturna”, sendo também chamada como “noite escura da alma” é perigosa, visto que é quando o herói irá enfrentar seus monstros. É uma experiência de confronto e consideração cuidadosa das questões da Alma.

Um processo de mortificação do corpo egoico para a extração da alma subjetiva em uma des-importância de si frente à morte enquanto perspectiva, que justifica uma auto importância enquanto categoria subjetiva para além de si.

Uma contemplação esvaziada da própria falta de sentido em existir. Existir, por não ter um sentido, ganha a possibilidade de todos os sentidos, assim como a cor branca da terra alba que contém todas as cores. Aqui a subjetividade ascendeu a um estado de objetividade quando nada pode justificar o existir para além dele mesmo.

Nesta esfera não há nenhuma categoria que possa deliberar acerca da vontade de viver ou de morrer, senão a própria personalidade daquele que experimenta tal vivência. O que nos coloca como expectadores passivos e impotentes diante da Alma. Talvez aqui compreendamos o verdadeiro sentido em "escutar ao outro".

"A compreensão tenta permanecer, com o momento da maneira que ele se apresenta, ao passo que a explicação afasta do presente, para trás, numa cadeia de causalidade, ou para os lados numa série de comparações" (HILLMAN, 2011 p. 60).

REFERÊNCIAS

JUNG, Carl Gustav. Símbolos da Transformação. Petrópolis. Vozes. 1986.

HILLMAN, James. Psicologia Alquímica. Petrópolis. Vozes. 2011.

_____________. Suicídio e Alma. Petrópolis. Vozes. 2011.

NOTAS

[1] (fonte: http://bit.ly/2o19SyB)

[2] https://www.facebook.com/notes/hugo-guimar%C3%A3es/entre-o-ventre-e-o-t%C3%BAmulo-um-olhar-arquet%C3%ADpico-sobre-a-baleia-azul-por-hugo-guim/1536855529657786/

[3] http://mkmouse.com.br/livros/AEpopeiadeGilgamesh-Anonimo-MartinsFontes.pdf

[4] https://www.youtube.com/watch?v=FNoga3IxPHs (a partir min 1:35:25).

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