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Ressentimento e Esquecimento


Olhos petrificados, expressões sisudas, comportamento intransigente e misantrópico na intimidade que oculta uma tristeza invisível, esta talvez seja a condição mais incapacitante. Aquela forma da dor que nutre e aparenta um comportamento amigável e coerente com o que o momento pede. Porém, o sorriso fácil que desinibe as relações fazendo com que não nos apercebamos dos demais detalhes expressivos também é uma forma de fuga.

Quem nunca se defrontou com aquele amigo ou conhecido que em um primeiro momento demonstra uma aproximação bem intensa e simpática, um sujeito aparentemente muito amigável, de sorriso fácil e de fácil acesso, mas que se retira tão logo a maquiagem começa a ceder, não permite uma aproximação mais efetiva.

O ressentimento é assim, exige do indivíduo cada vez mais investimento de energia para manter e sustentar as relações intersubjetivas que, por terem se tornado inautênticas precisam sofrer constantes reparos fugazes.

Desde a década de 50 as Psicologias Profundas retomam a condição neurótica como a não apropriação dos conflitos que por se tornarem inconscientes produzem um desequilíbrio sistêmico no psiquismo. Jung (2008) diz que: “... a neurose é um desenvolvimento patológico unilateral da personalidade”. Hoje sabemos que nem todo conflito é patológico bem como nem todo conflito é natural.

Assim, quando há a repressão de conteúdos vivenciais importantes para que haja a adaptação do indivíduo, tais conteúdos eclodem novamente através de sinais sintomáticos em comportamentos e atitudes desnivelados, preocupações excessivas em tentativas da psique em reorganizar-se.

Um indivíduo neurótico é alguém que tem seu campo experiencial reduzido a ponto de permanecer em constante estado de alerta relacionado a algum perigo fantasioso, substituindo um estado de aceitação e relaxamento sensorial por um de tensão e prontidão muscular. Outra característica da neurose é o chamado afeto “alienígena”, desconhecido, geralmente devido à fragmentação exacerbada do ego em muitos complexos com grande carga emocional.

Jung (2008) definiu duas formas de adaptação, aquela que exige que o sujeito se coadune com os objetivos da coletividade, da exterioridade da vida prática e social. E aquela adaptação às exigências do inconsciente, ou do mundo interno de cada um de nós, nossa intimidade, aspirações e conteúdos mais particulares.

A categoria de adaptação à exterioridade Jung nomeou Persona, nossa conformidade com os papeis sociais que sustentam as relações em um nível mínimo e a categoria de adaptação a interioridade, que nomeou como Anima/Animus, nossas imagens pessoais, sonhos, anseios e humores secretos.

Desta forma, uma vida resumida a somente a uma dessas duas esferas produzem a conhecida neurose, o desnivelamento, a repressão de uma dessas duas faces arquetípicas da vida humana. Deste ponto de vista vislumbramos dois sujeitos, o primeiro que por reprimir sua alma íntima, acabou por acumular muito dinheiro e posses, mas não sabe o que fazer com isso, deixou as melhores coisas da vida passarem, tornando-se perverso com o lucro alheio sua inveja denunciará sempre sua incapacidade em sentir-se vivo com pouco. Seu caráter desviante pode ser vislumbrado nos desvios de verba, no não reconhecimento do mérito dos colegas ou subordinados. A seguinte afirmação participa do quotidiano deste neurótico: “Se não se contenta com pouco, o outro que se contenta nunca terá o suficiente”.

Do outro lado da moeda temos o sujeito extremamente bem coerente com sua vida íntima, sabe exatamente o que sente. Tem firmes seus propósitos e aspirações, não sente necessidade de aprovação exterior, porém sempre permanece em uma atitude ressentida para com esse Outro imaginário, sente-se sempre incompreendido pelo não reconhecimento de suas habilidades.

Isso o faz sempre questionar a validade de seus pensamentos e imagens, pois precisam de um outro que espelhe sua própria importância. Não consegue se adaptar ao mundo social do trabalho, nunca consegue por em prática seus projetos, pois sua animosidade, seu afeto é muito inconstante. Não possuem por assim dizer a paciência e persistência necessárias para a concretização de suas ideias.

Repressão e Esquecimento

“O ressentimento é a incapacidade de se desfazer do passado, ele corrompe o presente e compromete o futuro, a vontade de otium é o desejo de investir plenamente no instante, de reduzir o real a esta forma que, aliás, é a única modalidade possível do tempo” (ONFRAY, 1995). Aqui podemos aventar a hipótese de que a neurose é a transfiguração do ressentimento sedimentado. Não é esquecimento, mas sim recalque!

E o recalque na maioria das vezes também é transvestido sob formas pseudo religiosas na ideia de perdão. Dizer que perdoa seu inimigo é muitas vezes uma forma de se sentir vencedor, “estar por cima” o que torna a relação equivalente, torna o indivíduo tão neurótico quanto seu agressor. Já que empurra a ferida no ego para debaixo do tapete.

Não há perdão onde não há a vivência da dor que inferioriza, onde não há a possibilidade de o indivíduo confrontar sua sombra, ou aquilo que o tornou suscetível a tal ferida, sua parcela de responsabilidade. Deste modo o pseudo perdão é aquele que produz um ressentimento transvestido em uma aparência devotamente beata. A confissão da própria descrença em funcionamento através de uma dor inconsciente.

 

... o esquecimento se faz em nome de um princípio de equilíbrio que satisfaz a harmonia consigo mesmo (...). (ONFRAY, 1995).

 

O que o ressentimento visa em sua negatividade é anunciar a sede pelo desejo de eternidade, que é o ato consonante com o afeto, a vontade de fazer de todo ato uma mediação entre o tempo e aquilo do qual ele participa. Desta forma todo sintoma neurótico se torna uma forma de anunciar uma quebra na temporalidade que não produz uma apropriação do tempo mesmo.

Olhando por um viés prospectivo juntamente com Jung podemos afirmar que o indivíduo que contrai uma neurose é aquele que recebeu outra oportunidade de realizar sua vida que até então não fora devidamente vivida. Desta feita não há esquecimento sem uma dose de sacrifício em nome de um princípio maior do que o que foi ferido.

Esquecer é abrir mão não somente das injúrias e difamações, das perdas, traições ou humilhações, das dores mais profundas. Esquecer é o desejo de abandono da repetição de velhas histórias em prol da possibilidade de compor a si mesmo, ou re compor-se no tempo, o instante.

REFERÊNCIAS

JUNG, Carl Gustav. Fundamentos de Psicologia Analítica. Petrópolis. Vozes. 2008.

ONFRAY, Michel. A Escultura de Si. Rio de Janeiro. Rocco. 1995.


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