top of page

O Relacionamento Amoroso como União Psíquica


É comum testemunharmos nas redes sociais certo exibicionismo ingênuo “onde a grama do outro é sempre mais verde que a nossa” gerando assim as condições perfeitas para que as pessoas passem a questionar como devem viver uma vida feliz sob a égide da perfeição pública. Assim começam a surgir certos questionamentos acerca da validade do que se vive, mas nunca sobre a validade do que se acredita ou se vê. Desta forma as relações se tornam, como diz Bauman (2004) a expressão da lógica da rede em que estar com o outro é uma simples conexão-desconexão.

A chamada relação séria tem seus dias contados segundo a lógica das redes, condições só postas e um jogo de distanciamento frustrado se inicia até que um ou outro parceiro deletam um ao outro. Coloquemos um pouco de lado a representação social ou virtual acerca da relação para observarmos de dentro como se dá o enamoramento ou o matrimônio a partir da união psíquica que pode estar em ambas as relações ou em nenhuma delas. Desta forma estar em uma relação implica estar em harmonia com a psique, não necessariamente mediada por um código ou contrato verbal, visto que entre o que chamamos de relacionamento e um relacionamento propriamente dito há um inconsciente que interpreta e cria um mundo de significações apriorísticas.

Na atualidade o amor é confundido com desejo e este último é pervertido na hipersexualização exibicionista que demonstra mais um sentimento de frustração e solidão não devidamente considerados, pois o que é considerado é muito mais a propaganda de uma atratividade sexual. Tenho percebido muitas pessoas que se confessam incapazes de manter um relacionamento, os motivos são diversos, incompatibilidade de gênios, ingenuidade afetiva, imaturidade psicológica e o ciúme que acaba sendo provocado com a desculpa de que não há relação possível se não houver honestidade.

Suponhamos que ambos os parceiros consigam ser extremamente transparentes com relação ao próprio desejo para com o outro (deixando a vista seu desejo de traição ou atração por outros). Será que a relação se manteria? Se caso se mantivesse, o próximo nível de relação poderia ser nomeado de relação amorosa? Se caso não pudesse, o que seria considerada uma relação amorosa autêntica? Abrir a caixa de Pandora dos desejos seria impossibilitar a existência de um sentido de exclusividade, característica intrínseca da relação amorosa.

Por outro lado, seria ingênuo pensar que a exclusividade amorosa (fidelidade) só deva se dar no campo da sexualidade, principalmente quando a maior causa de “traição” talvez não seja somente transar com outros, mas muito mais se utilizar da relação sexual com o parceiro como satisfação egóica e onanistica, característica muito comum da atualidade, onde mostrar-se indiferente afetivamente é sinônimo de virtude. Aqui o desejo está sob a égide de um complexo narcísico cujo fim último é o encapsulamento em uma condição autoerótica.

Aqui se instala uma oposição: Exclusividade sexual x afinidade sentimental. Será que a exclusividade sexual se dá sempre e através de uma afinidade sentimental? Ou será que a suposta afinidade (fidelidade) sentimental de uma relação supostamente aberta, portaria dentro de si certa exclusividade do outro? Ter vários parceiros eróticos não é o mesmo que amar. Há neste sentido uma distinção entre amor e desejo! Tal distinção significa que sentir-se amado e amar, necessariamente implica um sentimento de frustração do desejo.

Se ambos os parceiros encontraram na exclusividade sexual seu jeito próprio de ser, isso significa que ambos dão conta de saber sobre a própria relatividade em sentir-se atraente ao outro, alcançando assim certa maturidade emocional. Pois não há relação que se sustente quando a exclusividade amorosa é colocada em xeque na provocação do ciúme gerando uma constante discórdia.

Pensar na relação é proteger a exclusividade do outro quando o mesmo nos é caro. Se não há um sentido de identidade formado, muitas vezes a relação de degenera em jogos de poder onde o fim último é provar a superioridade frente ao outro que se torna um competidor (quem atrai mais) machucando cada vez mais o outro a partir da projeção da sombra representada pelo seu sentimento inconsciente de des-importância.

O sujeito não sabe que entrou em um círculo vicioso onde expressar sua sensualidade relativizando seu sentimento, torna a relação insegura para ambos e consequentemente seu senso de importância para o outro. Em outros termos, sentir-se pequeno = provocar insegurança no outro = afastamento = sentir-se pequeno. Poderíamos dizer que tal relação é calcada na inconsciência da Anima/Animus (imagem arquetípica do Hierosgamos ou casamento interior), desta feita, a discórdia matrimonial na maioria das vezes é provocada pela desunião da pessoa para consigo mesma.

A Anima como a contraparte interna da personalidade do homem visa dar um equilíbrio a personalidade, pois compensa o intelectualismo racional do mesmo com um eros compreensivo, assim como o Animus da mulher equilibra sua personalidade com o saber sobre o que se quer realmente do outro clivando seu caos de estados afetivos em uma ideia diretora com um estatuto de subordinação das emoções, no caso a transformação de impulsos afetivos em sentimentos racionais (JUNG, 2011).

Quando isso não ocorre aí podemos dizer que a desunião é consigo mesmo sendo projetado no parceiro a própria incapacidade em lidar com eros. A mulher começa a ver o homem como rígido, não o ouve tal qual nunca concorda com suas opiniões. Neste caso a mulher se torna cativa do animus que passa a ser autônomo quando sempre precisa de um homem para validar sua opinião inconscientemente dando muita importância as brigas a respeito disso. Sua opinião, por ser imprópria, faz dela um joguete de suas emoções, assim ela se torna mandona e cheia de si.

No caso do homem a autonomia de sua anima faz com que este se torne um filho para a mulher, projetando nela toda sua incapacidade em atrair eroticamente a mesma, não ouve seus sentimentos e por isso joga no outro toda a responsabilidade em se vincular geralmente a partir do sexo. A autonomia da anima no homem também faz com que seu desejo erótico seja sempre descontrolado por associar a relação somente o sexo e esquecer que por detrás do mesmo há o vínculo e o significado, muitas vezes recorrendo a relações extraconjugais para sentir-se no domínio de seus afetos.

Monogamia x Poligamia

Uma das principais desavenças que surge em uma relação, que está malogrando é a monogamia versus poligamia. Para não ter de lidar com a responsabilidade para com os sentimentos muitos casais se veem na condição de alterar o status (licença ao facebook) da relação ou “mudar as regras do jogo”, assim como uma criança que não aceita perder. Não significa aqui que a poligamia é um despropósito, pois não falamos somente de regras mas sim da negação de toda uma cultura de tradição cristã a qual nos enraizamos.

Uma relação eminentemente monogâmica deve necessariamente portar certo realismo implícito do desejo a ponto de o casal dar conta de suportar e relatividade do desejo sexual frente ao outro. Pelo fato de a coisa ser compreendida implicitamente (protegendo o outro do númen do desejo) a exclusividade amorosa é resguardada.

De outro lado uma relação eminentemente poligâmica, para ser enquanto tal, ambos os parceiros devem possuir um forte sentido de fraternidade, pois na ausência do eros incandescente (desejo) deve existir algo a priori que os una, um sentido de irmandade existencial, cumplicidade.

Na relação monogâmica a exclusividade está na sexualidade que passa a ser considerada não somente como uma forma de satisfação do desejo mas muito mais como posicionamento afetivo dentro da relação. Por isso é comum as mulheres dizerem que para ter uma relação sexual satisfatória o dia deve ser romântico, tendo o homem que cortejá-la o dia todo para que a relação em si, seja o cume ou a cereja do bolo. Aqui a sexualidade é sinônimo de intimidade!

Isso não significa que uma relação poligâmica seja diferente. Muito pelo contrário! Na poligamia bem identificada por Carl Rogers em seu livro “As Novas Formas do Amor”, há um sentimento de sofrimento e descartabilidade toda vez que o parceiro está com outro, porém, tal sentimento está contido dentro de uma visão de mundo partilhada, embasada na compreensão mútua de certas máculas existenciais. Geralmente, tal poligamia descrita pelo autor é sustentada dentro de uma comuna ou sociedade separada do todo social onde as pessoas decidem morarem juntas devido a uma ideologia ou preferência significativa.

Neste caso a comuna une pessoas em um regime de igualdade onde a exclusividade sexual é posta em segundo plano, porém, ambos se tornam exclusivos um para o outro por se situarem fora de parâmetros sociais dados, a exclusividade assim é garantida como uma identidade comunitária. É a regra da comuna tolerar e aceitar a poligamia, onde a mesma é aceita por estar em consonância com uma visão de mundo partilhada dentro de uma cosmovisão, assim a exclusividade estaria no pertencimento a tal circulo.

Pensando na questão da relatividade sexual dentro da cultura monogâmica, poderíamos arriscar que tal relatividade, possui um caráter necessário significando que sentir-se exclusivo para o outro necessariamente envolve a negação do desejo enquanto pluralidade de possibilidades (Poligamia); pois, sentir-se exclusivo já é em si a própria exclusão da possibilidade pluralista do desejo.

Assim sendo sou exclusivo na medida em que relativizo-me frente ao desejo negando sua pluralidade erótica a partir da exclusividade amorosa. É um paradoxo o fato de que para sentir-se amado pela parceiro (a) é necessário sentir-se igualmente não tão desejado para a mesma, pois do contrário estaria sendo um amante. Ser relativamente desejável significa sentir-se amado exclusivamente, pois todo amante é a projeção da fantasia feminina, só se constituindo como real na medida do desejo e sua satisfação almejada. Já o namorado ou marido pode ser amante mas não só, por isso a morte do amante é encontrada no sentimento de inferioridade sexual.

O Leitor deve estar se perguntando se de algum modo eu quero fazê-lo engolir que o casamento ou a relação séria é a melhor opção para se viver um relacionamento. Longe disso, não defino aqui o que seria o ideal, mas muito mais, certos parâmetros típicos de problemáticas que surgem em um relacionamento amoroso, não me preocupei em traçar ou identificar as formas exteriores as quais uma relação se dá. O fato é que uma relação séria ou amorosa, exige por sua própria natureza certo sacrifício de caprichos individuais, mas aquele que ainda vive tais caprichos e não os veem desta forma, entenderão que uma relação séria é extenuante e pesada exigindo o que não se pode dar.

“Faz parte do amor a profundidade e fidelidade do sentimento, pois sem elas o amor não seria amor, mas simples capricho. O verdadeiro amor sempre pressupõe um vínculo duradouro e responsável (…) Todo amor verdadeiro e profundo é um sacrifício” (JUNG, 2011, p.122).

REFERÊNCIAS

BAUMAN, Zigmunt. Amor Líquido. Rio de Janeiro. Zahar. 2004.

JUNG, Carl Gustav. Civilização em Transição. Petrópolis. Vozes. 2011.

ROGERS, Carl. As Novas Formas do Amor: O casamento e suas Alternativas. São Paulo. José Olympio. 1972.


 o MANIFESTo do artefato:

 

Este é um ótimo espaço para escrever um texto longo sobre a sua empresa e seus serviços. Você pode usar esse espaço para entrar em detalhes sobre a sua empresa. Fale sobre a sua equipe e sobre os serviços prestados por você. Conte aos seus visitantes sobre como teve a idéia de iniciar o seu negócio e o que o torna diferente de seus competidores. Faça com que sua empresa se destaque e mostre quem você é. Dica: Adicione a sua própria imagem clicando duas vezes sobre a imagem e clicando em Trocar Imagem.

 próximos EVENToS: 

 

31/10/23:  Exposição de Arte Escandinava

 

6/11/23:  Arte em Vídeo Pelo Mundo

 

29/11/23:  Palestra: História da Arte

 

1/12/23:  Festival de Cinema Indie 2023

 Siga o ARTeFATo: 
  • Facebook B&W
  • Twitter B&W
  • Instagram B&W
 POSTS recentes: 
 procurar por TAGS: 
Nenhum tag.
bottom of page